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'Empreender é perder o medo de surpreender', diz Silvio Meira

Silvio Meira faz palestra na Campus Party Recife. (Foto: Katherine Coutinho/G1) Silvio Meira faz palestra na Campus Party Recife. (Foto: Katherine Coutinho/G1)[/caption]

“Nunca foi tão difícil surpreender. Empreender é perder o medo de surpreender, isso no Brasil a gente ainda está mal, é algo que a gente tem que fazer muito ainda”. Esse é o aviso de Silvio Meira, professor de engenharia de software do Centro de Informática da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), além de cientista-chefe do C.E.S.A.R, presidente do Conselho de Administração do Porto Digital, entre outros requisitos. Meira abriu o palco principal da Campus Party Recife nesta quinta-feira (18), falando sobre ‘Inovar e Empreender’. Para ele, o grande desafio atualmente não é mostrar as ideias que se tem. “Você pode fazer um protótipo e mostrar, mas a gente vê muita cópia por aí também”, acredita.

“Empreender e inovar não é dom, é questão de ter energia e entender que errar faz parte do processo de aprendizado”, disse ele. Antes de subir ao palco, em conversa com o G1, o professor ressaltou a importância de se estar disposto a aprender o tempo todo. “Quando você sai da faculdade, ‘formado’, acha que sabe tudo. Você tem que aprender fazendo, o tempo inteiro. Se você não tiver um grau de liberdade que se permita errar, entendendo que errar não é fracasso, você não vai conseguir empreender”, aponta.

Para ele, a Campus Party Recife se torna especial pelo histórico da cidade, que atrai estudantes há séculos, lembra Meira. “Tem muita coisa acontecendo aqui, desde muito tempo. Recife foi a primeira cidade do Nordeste a ter um computador. Eu não sou daqui [é paraibano], vim atraído para cá. Lugares que atraem muita gente para estudar tendem a ser lugares criativos. Além disso, [Recife] é uma cidade muito crítica. Se você passar pelo crivo do Recife, você consegue ir para o mundo”, acredita o cientista.

Empreender e inovar virou moda, mas não pode ser tratado com leviandade, alerta. “Ideias, apesar de terem uma força muito grande, não têm capacidade de mudar o mundo. O que muda o mundo é a capacidade de fazer. Enquanto as pessoas estavam nas redes sociais, reclamando, nada acontecia. Quando você vai e bloqueia uma avenida, de repente começa a acontecer um bocado de coisa. Você transformou o potencial. Inovação deve ser confundida com empreendedorismo, não com ideias”, afirma.

Conversando com o G1, Meira lembrou que boas ideias surgem aos montes. “A maioria das boas ideias se perde por uma execução de segunda qualidade”, acredita. Para isso, é preciso conhecer a rede social em que você pretende se inserir. “Redes sociais não começaram ontem. Nós somos sociais por definição. Desde que nós começamos a existir como unidade, começamos a existir como rede”, alertou, para um público atento.

Lembrando também que é preciso estar atento ao mercado em que se está se inserindo, Meira ressaltou que inovar é mudar. “Mudar custa tempo, mais do que dinheiro. Existe uma predisposição natural para ficar como a gente está. E essa história de todo mundo mudar junto é que é essencial para dar certo”, aponta, destacando que é preciso focar em um grupo e ter o contexto, muitas vezes atrelado a uma cultura. “Cultura de um mercado qualquer é transmissão situada de informação que participa daquele contexto”, explica Meira.

[caption id="attachment_561" align="alignleft" width="620"]Plateia ouve atenta a palestra de Silvio Meira. (Foto: Katherine Coutinho/G1) Plateia ouve atenta a palestra de Silvio Meira. (Foto: Katherine Coutinho/G1)[/caption]

Desafio Conhecendo a cultura, se conhece os limites. Porém, para se ousar é preciso ir além do lugar comum e explorar as possibilidades, sendo esse o desafio real do novo empreendedor. “Mudar não é fácil e isso acaba gerando as ‘funcionalitites’, que é colocar todas as funções de uma vez, dessa vez que a gente vai mudar, quer colocar todas as funcionalidades que todo mundo pensou. Isso normalmente destrói qualquer boa ideia. É preciso saber dosar”, alerta o cientista.

A dosagem não é fácil, admite Meira. “Perfomance com inovação simultaneamente [é a fórmula para o negócio], eu tenho que ser quase esquizofrênico. Eu executo o presente, enquanto tento criar o futuro. O problema da gente na prática é: como é que a gente combina altas margens de lucro agora com um negócio que não tem nem receita na maioria dos casos”, aponta.

Com isso, seja um novo programa ou um novo serviço, loja ou o que for, é preciso saber onde se está, o que se quer fazer, como se quer fazer e no que vai resultar. “A mudança tem que vir embutida com possibilidade de futuro. Esse troço aqui tem que ter a possibilidade de recuperar o tempo, esforço, recursos que coloquei aqui. Você tem hoje 70% dos jovens de 15 a 24 anos com smartphone e passando 7 horas por dia na internet, então você tem um espaço para criar. […] É preciso também ter em mente que em rede, você não manda, você tenta articular. Você não controla, você não comanda. Ela muda e talvez ela mude, exclua você, dependendo de quem você traz”.

Equipe Questionado sobre o trabalho em equipe, Meira disse que essa é a única forma de trabalhar. “Se alguém chega na minha empresa dizendo que tem uma grande ideia, eu não deixo nem entrar. É muito mais interessante um cara que se uniu com os outros para tentar fazer”, acredita o cientista, que deu também uma dica para as pessoas que querem começar um novo negócio, em que área for. “Se eu estivesse começando hoje, para dar meus três primeiros passos, mais do que ouvir palestras, eu ia procurar a galera do Sebrae também”, afirma.

Meira falou também sobre o C.E.S.A.R., empresa de desenvolvimento em que é cientista-chefe no Recife e ressaltou que, nesse caso, o local é mais focado no desenvolvimento de técnicos do que empreendedores. “O C.E.S.A.R é uma casa de passagem, eles participam de projetos complexos, têm uma interlocução de alguns dos laboratórios mais competentes do mundo, isso prepara do ponto de vista técnico, embora também dê feeling do mercado. A gente tem uma incubadora, mas dentro do Porto Digital, fora de lá”, explica.

Após explorar os conceitos de inovação e empreendedorismo, Meira concluiu de forma simples o pensamento. “Inovação pode ser vista como criação de valor novo. Porque provavelmente se não for novo, não vai ser inovação. Inovação é pura e simplesmente criação de valor, mas vá fazer que isso é só o começo para começar a entender como faz”, finaliza.

Serviço Campus Party Recife – 2ª Edição De 17 a 21 de julho de 2013 Centro de Convenções de Pernambuco (Cecon-PE) e Chevrolet Hall Avenida Governador Agamenon Magalhães, s/n Recife – PE http://recife.campus-party.org Campus Live: http://live.campus-party.org/ Programação completa: http://recife.campus-party.org/2013/agenda-geral.html Fonte: Por Katherine Coutinho, do G1 PE.]]>

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