O Orçamento Participativo (OP) acabou no Recife. Assim como o amor, na crônica de Paulo Mendes Campos. Numa segunda-feira nublada, o principal programa de participação popular do PT no Recife – implementado em 2001 no primeiro ano da administração do ex-prefeito João Paulo – deixou de existir, ainda que oficialmente seja tratado como “em reformulação”.
“O meu mandato de delegado está acabando. Quando vai ser a nova eleição?”, questionou ao secretário de Governo e Participação Popular, Sileno Guedes, um dos delegados presentes ontem ao Centro de Formação de Professores, Paulo Freire, na Madalena, ontem. “Não precisa se preocupar com isso. Não vai ter eleição”, rebateu de pronto o secretário. No modelo de participação popular a ser gerido de agora em diante na gestão Geraldo Julio (PSB), os delegados não são mais protagonistas.
Afirmando que é necessário “oxigenar” o debate de prioridades para a cidade, o secretário explicou que as antigas plenárias, agora chamadas somente de reuniões, contarão com representantes de outras entidades, sindicatos e associações de moradores.
Os antigos ciclos – meses usados para debates das obras que iriam à votação – também assumem outro formato: serão fóruns. Deles, qualquer interessado pode participar, não precisando ser eleito representante de sua comunidade ou bairro.
Assim como acontece com o programa estadual “Todos por Pernambuco”, o modelo do Recife tratará os debates separados por áreas de atuação do governo. Na gestão petista eram os setoriais: saúde, mulher, educação, para citar alguns exemplos. Também não haverá eleição de novas obras para serem executadas nos próximos anos na administração Geraldo Julio.
Em sua primeira reunião do ano com os delegados do OP, o secretário Sileno Guedes apresentou uma extensa lista de obras inacabadas. No passivo deixado pelo Partido dos Trabalhadores, após 12 anos de programa, 1.045 obras não foram executadas e apenas 190 estão com o projeto executivo, ponto de partida das obras, finalizado.
“O prefeito garantiu que todas essas obras serão executadas. Em respeito à decisão da população. Nossa prioridade será executar aquilo que já está com o projeto e concluir o que está em curso para até o ano que vem zerar essas demandas. O que ficar para o próximo ano vai virar lei, porque colocaremos o Orçamento no Plano Plurianual”, assegurou Guedes.
Entre os quase 80 delegados presentes, a maioria estava perdida. Paulo Santos, 48 anos, é conselheiro do OP no bairro da Iputinga desde 2001. Reclamou ao microfone do atraso na conversa a ser estabelecida pelo novo governo com os delegados.
“Ninguém procurou por nós para dizer o que iria acontecer com o OP, com as obras que elegemos com sacrifício. Saiu daqui entendendo menos do que quando não tinha informação nenhuma”, atestou.
A mudança na forma de escuta popular a ser realizada pelo município será oficializada entre os dias 26 e 28 deste mês, num evento que contará com a presença do prefeito, que ontem não compareceu, denotando seu interesse em se desvincular do principal programa das gestões que o antecederam.
Fonte: Por Bruna Serra, do Jornal do Commercio.
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